19/11/2024 09:08
Por Augusto César Barreto Rocha
Vivemos em uma região com infraestruturas imaginadas. Há tantos rios na região que nos habituamos a chamá-los de "hidrovias", mas eles não são nada além de rios e nem sempre navegáveis. Há tentativas de transformação em hidrovias. Como exemplo, recentemente veio uma draga de maior porte, para tentar manter a navegabilidade nesta "hidrovia", e ela não consegue resolver o problema, mas muitas pessoas acreditam que ela resolverá. Até aqui, não resolveu, repetindo o fracasso do ano passado, quando foi usada uma draga de menor porte. Pelo menos serviu para acalmar os corações, removendo apenas a sensação de inércia. Ao que tudo indica, a navegabilidade será retomada pela chuva que volta a acontecer, depois do repiquete. Ano passado a dragagem não resolveu, e este ano a história vagarosamente se repete.
Frequentemente, falamos sobre a rodovia BR-319. Faz anos e anos. Parecemos presos em uma espiral de discussão e discussão é vazia e parece só trazer as generalizações e chavões sobre proteção versus desenvolvimento, meio-ambiente, economia, qualidade de vida e, finalmente, a moral. São anos e anos dessas discussões, mas o fim de ano e nada mudou: nem temos proteção, nem rodovia.
A concessão do aeroporto de Manaus traria mais voos e menos custos. O que se constata é um aeroporto menor, com menos voos e mais custos. Seguimos com muitas possibilidades e poucas realidades concretas melhores do que o passado. Pela Amazônia não temos nem muitos "voos de galinha", como se convencionou deliberar o desenvolvimento nacional. O que temos é uma operação que não atraiu mais voos para o Amazonas. Hoje é mais caro voar no Amazonas para a Amazônia e menos voos chegaram por aqui do que os que saíram.
As quedas acontecem, mas somos poucos em discussões sobre suas causas, extensões por mesorregião. Temos apenas números "macro" que relatam efeitos e não as causas destas catástrofes. Sequer conseguimos diferenciar o que foi natural e o que foi criminoso, o que foi da tradição do pequeno produtor ou o que foi destruidor para a grilagem de terras. O que foi da natureza e o que foi crime? O que foi um incidente, uma dor ou uma catástrofe? Convivemos com o entendimento macro da imagem e não do evento. Resumidamente, a região amazônica ainda não foi capaz de se institucionalmente nacional. Ela é como um país à parte, e é difícil saber quais são os seus eventos internos que fazem que não seja possível conectar-se ao Brasil.
E isso não é um problema só de agora. Mas, a falta de infraestrutura física, a falta de infraestrutura humana e o desenvolvimento humano ou os dramas das capitais e dos interiores são apenas histórias e não existem ações concretas e métricas perseguidas para uma melhoria continuada.
O que temos na Amazônia são infraestruturas de décadas atrás, com cenários imaginados apenas para apoiar outras regiões do país. E assim, a energia elétrica vai para o Sudeste, seus rios servem para apoiar o centro-oeste no escoamento da soja. Seus rios servem para transportar cargas ou passageiros com custos e preços extraordinários que permitem margens de lucro excepcionais. Corrigir ou reduzir as desigualdades regionais para o interesse da Amazônia não está na pauta das ações, por mais que isso faça parte de um discurso e tenha até algumas ações, mas está longe da realidade concreta.
Publico no Jornal Acritica em 19/11/2024